"Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder minhas coisas."
- Mario Quintana sobre o pequeno quarto que Paulo Roberto Falcão lhe cedeu em seu Hotel Royal.
Tive várias introduções à Mario Quintana durante toda minha vida, mas foi com o poema De Gramática e de Linguagem que realmente me encantei por sua alma derramada em cada palavra.
E havia uma gramática que dizia assim:
"Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou coisa: João, sabiá, caneta".
Eu gosto das coisas. As coisas sim!...
As pessoas atrapalham. Estão em toda
parte. Multiplicam-se em excesso.
As coisas são quietas. Bastam-se. Não se
metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo, nem sempre,
O ovo pode estar choco: é inquietante...
As coisas vivem metidas com as suas coisas.
E não exigem nada.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta.
Para quê? Não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão,
Amigo ou adverso... João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João...
Mas o bom mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorra
Como a polpa de um fruto madura em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso
sentido:
Basta provares o seu gosto...
Não é necessário ler alguma biografia para conhecer a essência de Mario. Um tanto solitário, irônico e apaixonado. Essas três qualidades, tão peculiares para se estarem juntas, o definem para mim. E viveu a maior parte de sua vida em hotéis, inclusive o último, o antigo Hotel Majestic hoje é a Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, onde seu quarto foi recriado.
Seus grandes feitos foram seus poemas. E mesmos sem ter feito parte da Academia Brasileira De Letras será sempre o primeiro nome a vir à minha boca quando pensar em poesia.
Seus grandes feitos foram seus poemas. E mesmos sem ter feito parte da Academia Brasileira De Letras será sempre o primeiro nome a vir à minha boca quando pensar em poesia.
Fonte: Wikipédia